Tea time

Adoramos tomar um cafezinho durante o dia para dar um up, mas chic mesmo ( com C maiúsculo ) é fazer como os ingleses: tomar o ‘chá das cinco’. O evento parece ter sido organizado pela primeira vez pela Duquesa de Bedford como uma oportunidade de exibir suas maravilhosas peças de porcelana e prata, mas a verdade é que os sábios orientais já apreciavam a bebida, pelo seu sabor e qualidades medicinais, há muito tempo e hoje sabemos que existem chás específicos para qualquer hora do dia!

O caráter chinês para chá é 茶 e significa ‘apanhar, colher’, mas tem duas formas distintas de se pronunciar. Uma é ‘te’ que vem da palavra malaia para a bebida. Outra é usada em cantonês e mandarim, que soa como ‘cha’ mesmo. Esta duplicidade fez com que o nome do da bebida se dividisse em dois grupos:

Línguas que usam derivados da palavra Te: alemão, inglês, dinamarquês, hebraico, húngaro, finlandês, indonésio, italiano, letão, tamil, sinhala, francês, holandês, espanhol, arménio e latim científico.

Línguas que usam derivados da palavra Cha: hindi, japonês, português, persa, albanês, checo, russo, turco, tibetano, árabe, vietnamita, coreano, tailandês, grego, romeno, swahili, croata.

O primeiro chá foi preparado pela infusão de folhas, flores, raízes da Camellia sinensis (planta nativa da China e Índia).  Esta planta era popularmente chamada de chá e o nome acabou sendo generalizado para esse tipo de bebida.  Hoje a folha da Camellia é usada para fazer o Mancha.  Super tradicional no Japão, o mancha é a bebida oficial da cerimônia do chá, o chamado chanoyu.


Diz a lenda, que o chá foi descoberto ao acaso: no ano 2737 a.C., o imperador chinês Shen Nung e a sua corte estariam a fazer uma pausa durante uma viagem e, enquanto esperavam que os criados fervessem água para beber (o imperador era muito higiénico!), algumas folhas de um arbusto terão caído dentro da mesma, produzindo um líquido acastanhado. O imperador ficou com a curiosidade aguçada e resolveu experimentar a bebida, que classificou como muito refrescante.

Chegou no Japão graças a alguns monges budistas japoneses que, depois de terem estado na China a estudar, tiveram a oportunidade de observar a importância que o chá tinha na meditação religiosa, além do seu agradável sabor! O teor religioso possibilitou a aceitação da bebida em todo o país, não só nas cortes reais, mas em todos os quadrantes da sociedade japonesa.

Lá, porém, o chá passou a ser muito mais do que uma simples bebida aconchegante, atingindo mesmo o estatuto de uma forma de arte, com direito a cerimônia própria (o “Cha-no-yu”). Edifícios específicos foram construídos para tal evento a fim de garantir o melhor ambiente para preparar e servir o chá da forma mais perfeita, graciosa e charmosa possível. Hoje existe até o sommelier do chá verde que precisa fazer um teste (oficial no país) para provar sua capacidade de apreciar e identificar os aromas e sabores do chá, sem falar em todo o ritual e acessórios envolvidos na brincadeira.

Apesar de Portugal ter sido o primeiro país europeu a consumir chá (trazido do Oriente pelos seus navegadores a partir da segunda metade do século XVI), curiosamente foi os holandeses quem importou o primeiro carregamento de chá da China, no início do século XVII, depois de terem estabelecido um posto de trocas comerciais na ilha de Java. Muito em voga na Holanda, o chá depressa circulou para outros países da Europa Ocidental, mantendo-se, no entanto, uma bebida exclusiva dos mais abastados, devido ao seu elevado preço. Tornou-se um hábito bem fino!

Na Inglaterra o imposto era tão alto que, em 1689, as vendas de chá quase que pararam por completo! O resultado? Contrabando de chá em larga escala com uma verdadeira rede de “crime” organizado que, infelizmente, adulterava muitas vezes as folhas de chá, adicionando-lhes folhas de outras plantas (tipo tráfico de drogas mesmo!). O mercado negro chegou a proporções tal que, em 1784, o primeiro-ministro William Pitt colocou um ponto final na situação ao reduzir o imposto de 119% para 12.5%! De um dia para o outro, o chá tornou-se acessível e o contrabando deixou de ser um negócio lucrativo. Finally, os ingleses passaram a ter direito de apreciar a bebida que é, até hoje, paixão nacional.

O Matcha é feito com a folha da  Camellia sinensis ( aka chá verde) contém catequina. Esta substancia é um poderoso antioxidante e anti-bactericida e polissacarídeo que faz baixar a taxa de açúcar do sangue. Tem vitamina B, vitamina C (retarda o efeito de envelhecimento) e flavonóides ( também são antioxidantes e tem ação preventiva contra o câncer). Ou seja, quase o elixir da longa vida que os alquimistas tanto buscaram!!!

Existem, no entanto, vários tipos de chá igualmente saborosos e saudáveis.Um dos tipos de chá verde mais requintados do Japão é o gyokuro. O nome significa, de acordo com o Wikipédia, “lágrimas de jade” devido sua cor verde intensa. A temperatura ideal para sua infusão é um pouco mais baixa que a maioria dos chás (40°C) e, por isso, é recomendado aquecer o copo antes para mantê-lo quentinho.  Você pode compara este chá em uma das melhores casas de chá do Japão: a Ippoodo – é uma marca super tradicional e conhecida pela alta qualidade ( e olha que os japas são bem exigentes,ne? Não é para qualquer um não!). Infelizmente, até onde sabemos, os chás ippodo não estão à venda por aqui.  Mas se você ainda não tem uma viagem à Tokio programada, ainda há esperanças: eles vendem online para o Brasil.

Outro bem chá japonês bacana é o soba-tchá. Nossa fiel colaboradora, a designer Sachimi Garcia, é especialista no assunto e conta no blog dela que este é um chá, cuja infusão é feita com o trigo sarraceno usado para fazer sobá, um tipo de macarrão muito bom e popular no Japão. Este trigo é produzido na região de Hida – numa região montanhosa no Japão Central, onde neva MUITO durante o inverno. Graças à grande diferença de temperatura entre o dia e a noite, o grão de sarraceno se desenvolve com sabor especial, segundo o fabricante. O grão é torrado lentamente a fogo baixo, o que faz com que fique ao mesmo tempo crocante e ainda conservando o seu sabor naturalmente doce. A Sachi, que não é boba, experimentou o soba-tchá in loco: foi em uma loja chamada Jugetsudo, em Tsukiji.

“Depois que eu tomei o chá, ela me ofereceu para comer os grãos em si, que eram muito bons! Eles são torrados, por isso são crocantes e um pouquinho doces. (…) Essa loja é incrível, a vendedora (na realidade, quase uma sommelière do chá japonês) é ótima e depois de puxar uma conversa, oferece alguns chás de acordo com o que vc se interessa, que você degusta no balcão enquanto ela generosamente dá explicações e responde a perguntas.”

Nada de vendas online, mas existe uma filial da Jugetsudo em Paris…mais perto,ne?

Já os chineses fazem um chá chamado Pu’er que vale a pena tomar. Ele é deferente dos outros chás porque precisa ser envelhecido (como os vinhos!)  durante alguns anos enquanto os outros devem ser consumidos logo após a produção. O Pu’er é um chá de folhas grandes fabricado no Condado de Pu’er na famosa região de Yunnan por ser onde originou a árvore do chá (a tal camellia) e hoje ainda existem árvores selvagens com mais de 1000 anos de idade, ainda produzindo ótimas folhas de chá.Dependendo do produtor, ano de produção e de sua qualidade na pós-fermentação, ele pode atingir preços altíssimos como alguns milhares de dólares.

Na Índia, o babado é tomar o Masala chai: um tipo de chá preto, que cresce na região de região de Assam desde a antiguidade, misturado a várias especiarias: cardamomo, canela, cravo, gemgibre e um pouco de leite. Esta mistura tem origem na medicina ayurvédica. É uma delicia e cai super bem no inverno ao lado de um bom livro!

Mercados indianos ao redor do mundo vendem diversas marcas de chai masala (“chá com especiarias”) prontos, embora muitas pessoas preparem a sua própria mistura. O chá sólido e os resíduos das especiarias são coados antes de servir-se o chá. No Brasil, você encontra facilmente o chai orgânico da marca Tribal Brasil. Vale super a pena, mas a gente aconselha acrescentar um pouco de canela e gengibre para ficar mais saboroso.

O que a gente ama MESMO é este chá verde aromatizado com flor de jasmim. Ao entrar em contato com a água quente, uma linda flor laranja “brota” no copo. Esta é mais uma dica da Sachi que adverte: o sabor não é especial. Mas só o efeito visual vale! LINDO DE MORRER.

Estas bolinhas são feitas na China, mas  é possível comprar no mundo todo. O site Cool Hunter indica a marca nova-iorquina Dynasty and ceremony.

No Brasil, é fácil achar no supermercado Santa Luzia ( Jardim Paulista)  ou na Loja do Chá (Iguatemi).  Outra marca de chá que vale experimentar no Santa Luzia é a The gourmet tea – são todos orgânicos e de qualidade ímpar.

Agora, se você que entrar na onda kitch, não pode deixar de conferir os chás e acessórios da marca russa Kusmi à venda na loja Poeira, no Rio de Janeiro.

Curioso: Você sabia que na Suiça o famoso ( e delicioso) fondue de queijo é tradicionalmente acompanhado de chá? Nada de vinho! Eles dizem que o chá é perfeito para apurar o sabor do queijo!

No cool hunter:

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